Declame para Drummond 2010
Praia de Copacabana, trinta e um de outubro de 2010, dia que o calçadão parou para declamar para Carlos Drummond de Andrade na primeira edição do projeto.
Sabe quando a gente tá apaixonado e fica com cara de bobo, sem conseguir retirar o sorriso do semblante? Pois é, assim estava eu ao terminar de montar a intervenção Declame para Drummond na manhã do dia no qual o poeta completaria cento e oito anos de idade.
O Declame para Drummond contou com mil poemas enviados de todo o Brasil expostos em forma de painel. Tudo bem informal e acessível. Era só pegar (declamar se quisesse) e levar. No início, passava um, olhava meio desconfiado... depois voltava, olhava de novo para timidamente perguntar: posso pegar um poema? Mas isso só durou até os primeiros momentos de intervenção, pois o aglomerado de gente colhendo os poemas foi aumentando, aumentando a ponto de não sobrar sequer um para contar história no fim do evento.
Para a minha surpresa, algumas pessoas que enviaram poemas de longe apareceram para prestigiar o projeto. “Vim lá do Piauí só pra ver se você colocou meu poema aí mesmo.” E pasmem, o seu Antônio achou o texto dele em meio a mil poemas e, claro, o declamou para Drummond muito emocionado. As declamações continuaram noite a dentro e logo se formou um sarau ao redor da estátua. Era uma roda de gente com poemas nas mãos aguardando a vez de declamar. Era gente de patins, de bicicleta, crianças, idosos, petistas, tucanos, todos com o mesmo intuito, adicionar poesia ao seu domingo. Ao finalizar, além de citar a autoria do poema, também era citado o nome de quem o enviou e o estado. Para mim, essa era a parte mais bonita dos poemas: fulana de Minas Gerais, não-sei-quem do Acre. Senti a poesia viva, viajando pelo Brasil em busca de sorrisos a serem entregues à beira-mar.
A intervenção contou com a inusitada presença da família do Drummond, que ficou tocada com a homenagem. Era neto, bisneto, irmã... um monte de outros Drummond que cantaram parabéns e cortaram o bolo oferecido por alguns poetas do Rio. Momento emocionante. Porém, o ápice da intervenção foi ver o Guilherme, um rapazinho de oito anos, declamando Manuel Bandeira, sem colar, de-co-ra-di-nho. O menino subiu no banco do aniversariante mais algumas vezes para ler os poemas que escolheu no painel. Confesso que não consegui prestar atenção nos últimos versos, pois ver a poesia nos olhos daquele menino foi um sinal divino de que tudo valeu à pena. E sorri com a alma.
A todos os poetas e admiradores da poesia que estiveram presentes por meio dos versos que enviaram e aos passantes que deram voz à poesia, minha gratdão, de coração.
Salve Drummond.