Parada Poética 2012
Brasília, março de 2012, sete horas da manhã. Seu João, usuário da parada de ônibus da 703 Sul, se aproxima de seu ponto e nota que o concreto está coberto por poemas e lindas ilustrações – e sorri, meio desajeitado pela falta de costume (…)
Cenas como essa que escrevi acima me invadiram a imaginação nos dois últimos dias pós-Parada Poética. Imaginar a reação da comunidade ao deparar-se com poemas e ilustrações cobrindo uma parada de ônibus, que antes era tão pálida, me faz sentir apaixonada, com borboleteamentos no coração e tudo. Na parada também foi instalada uma estantezinha de livros de poetas locais – sempre aberta à doações. Olhando a parada de longe dá a impressão de vermos uma colcha de retalhos tatuada na paisagem urbana e, de perto, os detalhes, rimas e tons encantam principalmente pelo inusitado de estar ali.
Há quinze anos, na mesma parada de ônibus que hoje está vestida de Poesia, o índio Pataxó Gaudino dos Santos foi covardemente queimado por jovens bresilienses. Desde então, sempre que eu passava por ali, sintia uma aflição no peito – condenando o Gaudino do meu imaginário a ficar em chamas para sempre. Porém, hoje, aquela praça se tornou (pelo menos pra mim) sinônimo de poesia e símbolo de um movimento de ocupação dos espaços públicos com arte e com gente.
Foi lindo e forte graças à energia de cada um que estava ali, apoiando e emanando poesia para a nossa cidade e para aquela praça tão emblemática em nossa história.
Agredeço a cada artista que esteve na Parada doando sua arte, seu tempo e principalmente seu amor, mostrando que é possível vivermos em uma cidade mais humanizada, acessível e poética.